Entre as mulheres que estão só há
muitas que se assustam ao perceberem de repente, que o tempo está
passando e elas continuam sozinhas. Cientes de suas carências, sentem-se
injustiçadas, uma vez que são tão mulheres quanto as outras, e não têm
companhia. A solidão, portanto, lhe parece algo impossível de se
conviver e se desestruturam.A vida se apresenta de modos diferentes para
cada pessoa. Ela pode ter seus caprichos,armar surpresas ou fazer
exigências. As decisões devem ser tomadas de acordo com as prioridades
de cada uma.
Outras sentem que nessas prioridades o
amor nunca esteve ausente, mas diferente. E não sentem solidão. O
assunto é delicado e expor-se requer coragem. Mas, por amor à verdade e
para se lidar com ela, é preciso que deixemos cair as máscaras, relaxar
as defesas, quebrar a resistência e dar lugar à humildade, para que o
diálogo franco seja possível.
Assim, não vamos fazer de conta que
tudo está bem. Isso seria arrogante demais. A aceitação de que somos é o
ponto de partida. Às vezes, não. É impossível ser heróica todos os dias
e em todas as circunstâncias. Não somos auto-suficientes a tal ponto.
Analogamente, é o que se pode ver na
arte da pintura moderna, em que a problemática da vida fica pra detrás
das formas, cores, linhas e materiais utilizados nas pinturas e
esculturas, querendo dizer algo mais que o aparente.
Pensei nisso quando estive
recentemente na Bienal. As obras ali expostas propõem a
desmaterialização da arte, em que o observador reflita sobre o
significado mais profundo que está além da aparência. O material versus o
espiritual. Entre ambos, um quadro que me emocionou foi “O Grito”, de
Edvard Munch, pintor norueguês, considerado um dos precursores do
Expressionismo, à semelhança de Van Gogh. Suas cores inusitadas, suas
pinceladas grossas, aquele rosto angustiado, com a boca ovalada em
grito, simbolizam a dor, de modo extremamente vigoroso. Quem olha o
quadro encontra ali sua própria dor. Aquela expressão pode ser a solidão
de uns, a revolta de outros e ainda, o desespero para muitos outros.
Munch mostra a presença da dor na vida
humana, com tanta intensidade e obsessão, que não há lugar para Deus. O
seu quadro é o da pintura da dor sem Deus. Por isso nos angustia. Na
arte, como na vida, é importante que entendamos o que existe por trás
das aparências, buscando nos fatos que vivemos, seu significado maior.
Outro dia perguntei a Jesus como lidar com a solidão. Pedi a Ele uma
resposta específica para mim e que fosse através do Evangelho de João, o
apóstolo do amor. (João era quem mais desfrutava da intimidade com
Jesus. Por isso mesmo seu evangelho é espiritualmente mais profundo, no
que se refere a doutrinas e à pessoa de Jesus Cristo). Ao abrir a Bíblia
no evangelho de João, ao acaso, imediatamente deparei com o versículo
29 do capítulo 8, em que Jesus diz aos judeus: “E aquele que me enviou
está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada”.
Esta foi a resposta que recebi. Jesus era só, assim como muitos de nós,
mas tinha a companhia de Deus, porque fazia tudo o que a ele agradava. A
solidão é uma realidade que atinge cristãs e não cristãs. As mulheres
que se encontram nessa condição, são vistas como “disponíveis” e,
portanto, são freqüentemente assediadas. Às vezes, de modo tão vulgar
que as inferioriza, outras com charme e sedução estimulando a vaidade, o
que é mais tentador.
Nenhuma dessas situações porém,
responde às verdadeiras necessidades de uma mulher cristã que busca o
amor. Vivemos todas numa sociedade liberada, que admite o comportamento
sexual ativo independente do casamento como sendo necessário, natural e
saudável. Com isso, o que está ocorrendo é a banalização do sexo, sem
restar mais nada de sagrado.
A carência afetiva da mulher se
acentua, quando ela é atraída e envolvida por pessoas que não
continuarão a seu lado. A emoção existe, o controle é difícil e
resvalar, muito fácil. Nessas horas, necessitamos muito mais de ajuda
divina. Lidar com as necessidades físicas e afetivas e resolver a
solidão, por nossa conta, é impossível. É necessário reconhecer nossa
fragilidade e dependência.
O nosso socorro vem de Deus, Jesus é
nosso modelo de vida. O nosso compromisso é com Ele. É essa a diferença
entre mulheres cristãs e não cristãs. É Jesus que faz toda diferença. O
caminho é estreito, é o da luta dia a dia, mas frutífero. Intensificar
nossa vida de oração, utilizar nossas potencialidades criando,
produzindo, ajudando, contratando pessoas, unindo-se mais aos irmãos na
fé, e ouvindo e respeitando a liderança da Igreja, para nos
fortalecermos mutuamente, são os meios que nos ajudam a prosseguir fiéis
nos caminhos do Senhor.
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